Efeito Placebo e dor
Um estudo publicado na revista Lancet em 1985 resolveu conduzir um experimento para avaliar a influência do placebo e o tratamento do profissional de saúde em relação a dor pós cirúrgica no paciente.
Este estudo é um pouco complexo, mas vou tentar simplificar o máximo possível.
Participaram deste estudo 60 pacientes odontológicos. E a priori, os pacientes e os cirurgiões, achavam que o estudo era para avaliar a eficácia do analgésico e placebo na dor após a remoção do dente. No entanto, o estudo era duplo-cego, ou seja, nem os pacientes e nem os cirurgiões sabiam qual paciente estava tomando o que. Então os pacientes poderiam estar recebendo, após a cirurgia, analgésico (Fentanil), placebo ou antagonista do narcótico (Naloxona). O Fentanil e o placebo poderiam diminuir a dor, já o Naloxona poderia aumentar a dor.
Os participantes tiveram a remoção do terceiro molar superior ou inferior (dente siso) com anestesia local (lidocaína 2%) sem vasoconstritor. Eles ainda tiveram que preencher um questionário de dor até 60 minutos após a cirurgia.
Agora a parte complicada
Antes de começar os procedimentos cirúrgicos, os dentistas foram chamados pelos pesquisadores, e foram informados que houve um problema com carregamento do analgésico, e que então os pacientes receberiam placebo ou Naloxona, este último poderia aumentar a dor. Mas, os cirurgiões não poderiam passar essa informação para os pacientes, então os pacientes achavam que teriam a possibilidade de estar recebendo analgésico. Este foi denominado como (grupo PN).
Após uma semana, os pesquisadores chamaram novamente os dentistas, e disseram que receberam o carregamento do analgésico, e que a partir de agora os pacientes poderiam estar recebendo o Fentanil ou placebo ou Naloxona. E, novamente, os dentistas não poderiam informar dessa situação para os pacientes. Este foi denominado como (grupo PNF).
Figura 1
Como é possível perceber o grupo (PN) teve um aumento na dor muito expressivo, enquanto o grupo PNF teve diminuição na dor até 60 minutos após a remoção do dente.
A parte interessante
Na verdade, os pesquisadores não foram honestos nem com os pacientes e muito menos com os dentistas. Todos os pacientes, dos dois grupos, receberam apenas placebo, nenhum recebeu de fato analgésico ou medicamente que aumentasse a dor.
– Mas, então por que teve aquelas reuniões com os dentistas para falar que não recebeu e depois recebeu o carregamento do analgésico?
Então, foi para avaliar se a reação do dentista, a forma como ele trata o paciente, pode influenciar na dor. Quando os dentistas foram operar o grupo PN, em os próprios dentistas “sabiam” que não estavam aplicando analgésico, de alguma forma, seja por um olhar, expressão, um gesto ou algo não falado, influenciou diretamente na dor após a cirurgia. E, no segundo momento, os dentistas achavam que poderiam estar aplicando analgésico (mesmo sendo tudo placebo), diminuiu a dor nos pós-operatório.
Dessa forma, é possível concluir que parte do efeito placebo, não está apenas na administração de uma substancia inerte, e sim também de quem o indicou, na forma como te tratou, na confiança em que te passou. Por isso é importante o profissional de saúde, tentar deixar o paciente o mais tranquilo possível e sem preocupações. E, por fim, este estudo também indica que nas pesquisas com medicamentos e suplementos, é necessário utilizar o método duplo-cego. Abraços!!
Referência
Gracely, R. H., Dubner, R., Deeter, W. R., & Wolskee, P. J. (1985). Clinicians’ expectations influence placebo analgesia. Lancet, 1(8419), 43.